Sexta-feira é dia de ritual lá no Maravilhosas Corpo de Baile: é aula da cremosa Julia Cristina, a oficina da minha auto estima. Como é bom dançar. Às sextas eu me arrumo e me maquio pra ir pra aula de pole dance. Me arrumo pra me encontrar. Depois eu geralmente passo no rodízio de caldos que tem no caminho pra casa e venho dormir o sono dos justos e exaustos. Esse é meu sextou. Tenho saído pouco, ando reclusa e sem grana e sem vontade também. Resquícios da pandemia, uma certa ansiedade que me toma toda vez que eu saio de casa e fico querendo voltar. Uma fobiazinha social, sabe? A mesma que me acomete no transporte público e que eu distraio ouvindo as histórias da Déia no Não Inviabilize ou crimes horríveis que me acalmam no Modus Operandi. Pois outro dia eu voltava pra casa depois de tomar uma canjinha, eu e um fardo de 16 rolos de papel higiênico Fofopel, quando passo por um bar - tem mil no meu caminho, todos abarrotados de jovens, barbas, estampas, meias engraçadinhas e bonés do MST - e escuto:
- A Clara!
Olhei e era uma amiga. E outros amigos. Eu totalmente no mood tirar a maquiagem e colocar um pijaminha. Mas era tanta gente legal que eu resolvi dar uma sentadinha, eu, minha barriguinha cheia de canja e meu fardinho de Fofopel arrumamos uma cadeira e quando eu vi já estava com uma cervejinha na mão e quando vi tava embalada no assunto e quando vi o bar fechou e um dos amigos da mesa sugeriu vamos lá pra casa e todo mundo foi. Eu com meu papel higiênico e minhas sandálias de salto na bolsa, pensando ai meu deus eu devia ir pra casa e pensando também não devia não, vai viver e conversar com as pessoas, Claraverbuck. Depois não sabe porque está esquecida: quem não circula, não existe. E essa existência de fazer social tem sido muito custosa pra mim. Mas nesse dia, nesse dia foi uma delícia. Aos poucos volta o traquejo social. Vou ter um teste esse fim de semana: ganhei ingresso pro festival The Town. Aquele mundo de gente. Quem não circula, não existe. E quem não existe não arruma trabalho. Vamos lá, eu e minha filha, ela empolgadíssima, eu pegando essa chance. Minha gata preferida está super doente (fiz uma rifa pra ver se consigo arrecadar a grana pra pagar o tratamento), eu estou sem trabalho, não tem sido dias muito bons e tampouco me sinto inspirada, mas hoje é sexta, hoje tem ritual, vamos lá, mais tarde melhora. A tal da transpiração. Inspiração mesmo ficou lá na juventude, antes da minha paixão virar trabalho. Trabalho que eu amo. Mas é trabalho. Trabalho que eu escolhi. Mas é trabalho. Se eu ficasse rica agora continuaria com o mesmo trabalho, a mesma profissão. Mas não ia mais precisar fazer social. Quem sabe esse dia não está perto de chegar? Vou tentar a megasena. De novo. Se eu ganhar vai ter newsletter mesmo assim, prometo. Desculpe pelas poucas palavras dessa semana, estou sem carisma.
Está gostando da newsletter? Considere mudar sua assinatura para paga! Custa só 10 reais e me ajuda a sustentar esse sonho impossível de viver da escrita no Brasil. Escrever é meu trabalho, colabore com ele <3
Se preferir mandar uns mimos por pix: cepontinho@gmail.com