Eu não queria estar escrevendo essas linhas agora. Eu também não queria estar escrevendo esse texto agora. Não sei se onde estou tirando forças para me expor dessa forma. Sempre fui um touro, um furacão, alguém que até caía, mas voava. Pois dessa vez eu não voei, me estabaquei e ainda estou no processo de me levantar.
Esse ano eu quis morrer. Não; este ano eu planejei morrer. Esse ano eu medi a viga da minha casa pra acabar com a minha vida. Esse ano eu fiquei deitada, mal comia e só conseguia levantar para cuidar dos meus animais, não sei nem como.
No ano passado e neste começo ano eu tive uma depressão que quase levou a minha vida. Nada fazia sentido. A existência não fazia sentido. Respirar não fazia sentido. E não, não é frescura, e também não é fraqueza. É uma doença que ceifa milhares de vidas que não são cuidadas e levadas a sério. "Todo mundo está mal" foi o que eu ouvi de gente próxima. Tristeza não é depressão. Depressão mata.
Eu não tenho depressão unipolar; eu sofro de Transtorno Afetivo Bipolar. No TAB temos também o pólo da mania, da euforia, no tipo 1, que é o que me acomete. Mas nada, nada nessa minha vida de 45 anos se pareceu com a depressão que eu tive esse ano. Parecia que eu já estava morta.
Eu só conseguia ficar deitada na cama. Não consigo começar a explicar o vazio que me acometia. Nada fazia sentido, nenhum amor existia, não conseguia cozinhar ou tirar o lixo, nada, nada, não. A única coisa que eu conseguia pensar era que eu era um fracasso nesta vida e que estava tomando espaço na terra, que tudo seria mais fácil sem mim. Quando tentava explicar o que sentia, ninguém entendia e eu me sentia ainda pior. E assim fui piorando. Foram 20 dias deitada na cama, tentando explicar o que eu estava sentindo. Pra sair na rua era um assombro. A voz das pessoas era algo de insuportável. A fobia social também veio com tudo.
O esforço que estou fazendo para escrever esse texto é descomunal. Escrever sempre foi a coisa que eu mais amei na vida e que sempre fiz com os pés nas costas. A depressão roubou isso de mim. Eu já estou bem melhor, cuidada com psiquiatra, psicólogo e pai de santo. Mas ainda frágil.
E essa força que estou fazendo é pra dar esse toque. Cuidem dos seus. Atentem aos sinais. Ainda que uma doença silenciosa, prestem atenção.
Isso é tudo que eu consigo dizer agora. Cuidem dos seus.